"Afastar muitos para longe do rebanho, foi para isso que eu vim!" Nietzsche

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Queres ver que estou enganado...?!

Tenho andado constipado e depois de me ter assoado, de uma forma vigorosa, tive o seguinte pensamento. Será que tenho verdades absolutas?
Resolvi proceder a uma cena que está na moda, chama-se introspecção… bolas até custa a dizer. Coloquei numa folha todas as minhas verdades absolutas que por acaso davam consistência aos meus preconceitos/juízos de valor.

  • A homossexualidade é uma doença;

    Um homem que tenha muitas namoradas é garanhão, se for uma mulher a ter muitos namorados é puta;
    Só os drogados e os homossexuais é que apanham sida;
    As hemorróidas apanham-se nos acentos quentes dos transportes públicos;
    Os políticos só pensam nos interesses do país e dos cidadãos que eles representam;
    As prostitutas, são prostitutas porque querem;
    Os comunistas comem criancinhas;
    Não existe fome em Portugal;
    Tanto os ricos como os pobres, têm o mesmo acesso à saúde e à educação;
    Na loja dos chineses tiram-nos os órgãos;
    O F.C.P nunca foi beneficiado pelos árbitros;
    Os Skinheads são racistas, neo-nazis e fascistas. E o movimento nasceu na Alemanha ariana.

Tinha finalmente escrito todas as minhas certezas absolutas, que davam consistência aos meus preconceitos/juízos de valor.
Mas vejam lá o azar pá, estava já sentado a beber uma imperial, quando vejo uma revista com um título de uma reportagem em letras garrafais, que dizia, a verdadeira origem do movimento Skinhead… vi logo que o dia ia começar mal! Lancei-me à revista, como um cão a um osso, impaciente por saber se a minha verdade absoluta era consistente…

“Nos dias de hoje, compreende-se por “skinhead” um marginal racista que luta por ideais de extrema-direita. Esta injustificada acepção foi nos dada pela comunicação social e por grupos de “neo-nazis” que resolveram adoptar o estilo skin sem se preocuparem em conhecer as suas origens.

Estamos na Jamaica em 1962, depois de largos anos de domínio imperialista britânico que deixaram este país na miséria, a Jamaica teve finalmente a sua independência. Os jovens deparam-se então com uma vida sem futuro e migram para as cidades, assim surgiram os guetos de Shanty Town e Trencttown onde se formavam gangs de jovens delinquentes, pistoleiros e traficantes de marijuana. Dos guetos surgem também novos ritmos influenciados pelo Jazz e Rhytm&Blues, primeiro o Ska (música skinhead por excelência), depois o RockSteady e mais tarde o Reggae.

Como não havia trabalho na Jamaica, alguns grupos populacionais partem para os subúrbios operários ingleses, onde se começam a relacionar com jovens britânicos, sobretudo com os Hard-Mods, pois estes eram apreciadores de R&B e Soul. Assim, a partir de 1965-66, estes jovens que tinham produzido a inovadora cultura modernist - ou pelo menos os não homologados na swinging London de Mary Quant e do psicadelismo - reagem à crise económica e à cada vez mais evidente exclusão social, tomando uma atitude estética mais agressiva que realçasse a sua condição de subalternidade social. Distantes dos excessos consumistas publicitados pelos massmedia, os Hard-mods criam o seu estilo com um casacão parka, um pólo fred-perry e um corte de cabelo cada vez mais curto contrastando com o penteado “à francesa” dos Trendy Mods. Devido à sua condição social, estes jovens acabam por se reapropriar do contexto original da working class: as ruas do bairro, o pub da esquina e o campo de futebol local. Outros viajam como penduras nas scooters dos amigos mais afortunados.

Quando Desmond Dekker chega a Inglaterra numa digressão para promover sucessos como “007”, actuando em pleno uniforme rude, camisa Fred Perry o fenómeno generaliza-se, e são as influências destas duas culturas (Hard-Mods e Rude-Boys) que fazem nascer o movimento SKINHEAD. Botas, suspensórios finos, cabelos curtos, scooters, roupa com estilo e música negra é o que domina o espírito de 69, Rude-Boys e skins negros e brancos influenciados pela cultura operária inglesa e pela cultura jamaicana. O movimento original Skinhead teve uma curta mas intensa existência (mais ou menos até 1972). Esta situação deveu-se à evolução musical e à associação que os massmedia faziam deste movimento com a violência.Foi preciso esperar quase uma década para que a cultura skinhead ressurgisse. Mas desta vez os skinheads vieram à luz abraçando a música Punk e a 2ª vaga do Ska que ficou conhecido por 2 tone. As culturas Punk e Skin vão ser muito importantes uma para a outra. O Punk que é uma cultura “irmã” e que estava bastante ligada aos filhos da classe operária, vai ajudar o skin a revitalizar-se; e por outro lado o Skin vai ajudar o Punk, que se estava a tornar numa cena muito comercial em direcção à new wave, a voltar para as ruas agora num estilo 100% operário, paralelo ao Punk, mas mais radical nas suas críticas contra o sistema social estabelecido, este novo género musical foi rotulado de “OI!” que por sua vez era o grito de rebeldia da classe operária.

Assim o movimento volta a ganhar aquela “negritude” que se perdera nos anos Setenta, e que deixara um vazio tal que induziu alguns skins a repudiar as suas próprias origens e a aderir as teses racistas, tão caras à cultura dominante, de grupos neo-nazis como o National Front. Infelizmente esta segunda onda de skins, finais dos anos 70 e início dos anos 80, foi infiltrada por racistas e fascistas. Estes Boneheads (nome dado aos skins nazis) levaram a opinião pública a pensar que todos os skinheads são racistas.

Aproveitando, uma fase de modernização industrial que afectou sobretudo a classe operária, alguns partidos fascistas ingleses como o National Front (N.F) que mais tarde deu origem ao British National Party (B.N.P), tentaram fazer crer que a culpa das dificuldades por que passava a classe trabalhadora, eram dos imigrantes. Esta velha história da carochinha, que põe sempre os imigrantes como os primeiros culpados de qualquer crise económica fez com que alguns skins e até punks, fossem recrutados para as fileiras do Young Nacional Front. Esta falsa imagem passada pela comunicação de que todos os Skinheads eram neo-nazis alastrou a toda a Europa. Para travar esta ascensão politica de extrema-direita, nascem por volta de 1984/86 na França, os Redskins em redor da banda Bérurier Noir para que se criasse uma espécie de serviço de segurança que se encarrega de proteger os festivais e impedir os “fachos” de entrar.
Em 1985 um grupo de skins nova-iorquinos decide criar a S.H.A.R.P –SkinHeads Against Racial Prejudice- que em português significa skinheads contra o preconceito racial, cujo principal objectivo era difundir a autêntica cultura skinhead e banir a politica e o racismo da cena Skinhead.

A finais de 1993 como consequência de um incidente provocado por supostos membros da S.H.A.R.P., cria-se em Nova Iorque a R.A.S.H. (Red & Anarchist SkinHeads) formada por skinheads anarquistas e comunistas, renunciando ao apoliticismo da S.H.A.R.P.A maioria dos skinheads, a nível mundial, podem não ser anjinhos, e fazem questão de não o ser, mas não são racistas nem nazis. Nem tão pouco são militantes comunistas ou anarquistas, a cultura skinhead não tem como objectivo a praxis política.”

Bem se os Skinheads não são racistas e até têm origens na Jamaica…! Queres ver que as outras verdades absolutas que eu tenho e que davam consistência aos meus preconceitos/juízos de valor, são falsas. Queres ver que eu afinal vou ficar sem preconceitos, nem vou fazer mais juízos de valor?! Era preciso ter muito azar para nenhuma ser verdadeira…!

Pronto retirei estas informações dum site, eh,eh. Mas já tinha lido uma reportagem no Diário de Notícias, se não me engano em 1997, e as informações não são muito diferentes das do site.

http://www.xuxajurassica.com/portal/modules.php?name=News&file=article&sid=1653 (consultem se quiserem informação mais detalhada).

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