"Afastar muitos para longe do rebanho, foi para isso que eu vim!" Nietzsche

sábado, 30 de outubro de 2010

Muito bom...


Jorge Mário da Silva… para muitos este nome dirá pouco, mas se lhe chamarmos por Seu Jorge, talvez alguns o consigam reconhecer. Se eu disser que fez de Mané Galinha no filme Cidade de Deus, talvez agora muitas mais pessoas saibam de quem é que eu estou a falar. Seu Jorge é actor, músico e compositor brasileiro.
Seu Jorge é o filho mais velho de 4 irmãos. Este artista teve uma infância difícil. Começou a trabalhar com dez anos de idade numa borracharia, foi também contínuo, marceneiro e office-boy. Serviu no exército brasileiro entre 1989-1990, no Rio de Janeiro, no Depósito Central de Armamento. Tirou o curso de corneteiro militar no 2º Batalhão de Infantaria Motorizado Escola, mas não se adaptou à vida militar. Das várias profissões que teve, estas nunca ofuscaram o seu verdadeiro desejo de se tornar músico.
Desde adolescente, frequentava as rodas de samba cariocas acompanhando o pai e os irmãos em bailes funks e bailes charmes da periferia, e cedo se começou a profissionalizar cantando na noite.
Foi com a morte de seu irmão Vitório, numa chacina que levou a família a desestruturar-se, que Seu Jorge acabou por se tornar num sem-tecto durante três anos. A reviravolta dá-se quando o clarinetista Paulo Moura o convidou para fazer um teste para um musical de teatro. Foi aprovado e acabou por participar em mais de 20 espectáculos com o Teatro da Universidade do Rio de Janeiro, como cantor e actor.


 
A partir daí, Seu Jorge começou uma carreira que o levaria a participar em filmes nacionais como Cidade de Deus, Moro no Brasil, Tropa de Elite 2 e outros, mas também em filmes internacionais o mais famoso foi The Life Aquatic with Steve Zissou, fazendo de Pelé dos Santos. Ele não se limitou a representar. Foi-lhe proposto fazer uma a banda sonora do filme, com uma versão acústica e em português de músicas do Grande David Bowie. No cd da banda sonora deste filme pode ler-se as seguintes palavras do Grande David Bowie “had Seu Jorge not recorded my songs acoustically in Portuguese I would never have heard this new level of beauty which he has imbued them with”


Lembro-me do dia 3 de Novembro de 2005, Seu Jorge ia actuar na intimista e mítica Aula Magna, uma sala que tinha tudo para dar certo… e deu. Antes de começar a tocar “Eu sou favela”, música que é construída sobre uma lírica panfletária, denúncia social que termina em comoção do artista, que deixa escapar algumas lágrimas. Ele explica o que passou, o que viveu, o que sofreu, o que conquistou ao viver na favela. É claramente uma pessoa agradecida por ter sobrevivido, mas principalmente por ter conseguido agarrar-se ao amor que tem pela música e língua portuguesa. Ele próprio agradece e diz que o sotaque pode ser diferente, mas os verbos, os adjectivos e o que a língua portuguesa consegue expressar estão lá…

É com muita pena que infelizmente não o vou poder ir ver novamente, mas garantidamente que vai ser um concerto único, formidável e inesquecível …

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