"Afastar muitos para longe do rebanho, foi para isso que eu vim!" Nietzsche

terça-feira, 15 de março de 2011

Renováveis...

Se se perguntar a alguém se prefere que aquilo que paga de electricidade fique em salários em Portugal ou que engrosse as contas dos países exportadores de gás e petróleo, ou se gostaria de ver eliminada a vulnerabilidade da nossa economia perante as subidas descontroladas dos preços dos combustíveis fósseis, ou se deseja que os transportes, as indústrias e as famílias, tal como a geração eléctrica, reduzissem as emissões de CO2 e que o abastecimento eléctrico fosse (quase) isento de riscos de catástrofes (como a que paira sobre o Japão), não me resta dúvida de que a maioria das respostas seria no sentido de apoiar as energias renováveis, e de que estas passem a cobrir a maior parte das nossas necessidades energéticas.

As únicas dúvidas que podem assaltar o cidadão são se os custos das renováveis representam uma barreira inultrapassável a curto prazo e se a sua tecnologia ainda imatura tem a fiabilidade dos meios tradicionais de geração de energia. Quanto à primeira dúvida, são muitos os estudos objectivos que demonstram que, a nível macroeconómico, os benefícios que as renováveis retornam à sociedade são muito superiores às ajudas que recebem para a sua instalação. Mas, inclusive comparando custos de geração eléctrica, há tecnologias, como a eólica, que após dez anos de apoio e implementação a nível mundial já apresenta custos competitivos com a geração convencional em determinadas localizações, e o mesmo vai ocorrer em breve com a fotovoltaica e as centrais solares termoeléctricas. Relativamente à segunda dúvida, o cidadão deve tranquilizar-se ao pensar que em muitos períodos de 2010 as energias renováveis geraram percentagens significativas da electricidade consumida no nosso país sem nenhuma incidência na qualidade do fornecimento.

A história das revoluções tecnológicas que foram transformando o mundo mostra-nos que houve sempre tentativas de rejeição por parte dos núcleos económicos de poder, defendendo os seus interesses estabelecidos. A Revolução Industrial de finais do século XVIII, com a invenção da máquina a vapor, não se livrou da pressão dos lobbies aristocratas para manter o antigo sistema de produção que se via ameaçado pelas máquinas. O comboio suportou boicotes e ameaças ao longo do século XIX, mas não impediram o seu desenvolvimento nem que hoje tenhamos à disposição a alta velocidade.

Também a introdução da electricidade em princípios do século XX ou das tecnologias da informação e comunicação no último quarto do século XX despertaram inúmeros temores, mas abriram caminho e não poderíamos imaginar actualmente o nosso mundo sem elas. E agora, no começo do século XXI, começou a mudança imparável do modelo energético graças às tecnologias de aproveitamento das energias renováveis, que são sustentáveis, de “potencial infinito” e custo previsível.

Estas tecnologias, já maduras mas com capacidade para continuarem a aperfeiçoar-se e embaratecer – ao contrário da subida progressiva que os combustíveis fósseis terão por força da diminuição das suas reservas –, põem felizmente em perigo não só a utilidade de investimentos realizados em cenários de crescimento insustentáveis, como a própria distribuição do poder, eliminando a vulnerabilidade das economias dos países, tanto desenvolvidos como emergentes.

Portugal pode gabar-se de uma posição de vanguarda nestas tecnologias, particularmente na eólica e termo-solar, num momento em que no mundo inteiro se empreendem ambiciosos planos de expansão. Esta oportunidade histórica só poderá ser aproveitada pelas nossas empresas se se mantiveram na primeira linha graças ao desenvolvimento do nosso mercado interno, no qual podem implementar as inovações para posterior exportação.

Poucos sectores industriais se podem apresentar como um caso de sucesso do apoio continuado à Investigação e Desenvolvimento, da excelente formação das nossas universidades e da resposta das nossas empresas a uma moldura normativa que permitiu o seu descolar e cujos apoios recebidos estejam a ser retornados à sociedade com acréscimo.

As renováveis já não são uma utopia. Representaram pouco mais de metade da geração eléctrica em Portugal em 2010 e são um sector florescente. Os investimentos são privados, poupam importações de gás, petróleo e carvão, exportam tecnologia, reduzem o custo por emissões de CO2 e geram emprego. Definitivamente, uma excelente aposta no presente e no futuro da economia do nosso país.

PS: imagem e texto "gentilmente" retirados do blog JUGULAR



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