"Afastar muitos para longe do rebanho, foi para isso que eu vim!" Nietzsche

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Light up the darkness...

No outro dia visionámos umas imagens arrepiantes e incomodativas… um grupo de jovens, cerca de 8 agrediram violentamente outro jovem. Murros, pontapés por todo o corpo. O jovem agredido, jazia imóvel no chão. Mas um acto ainda mais revoltante iria acontecer. Um dos 8 jovens, ficou sozinho ao lado do corpo do jovem que jazia no chão e para além de lhe dar pontapés na cabeça, saltou 3 vezes com os pés juntos sobre a cabeça do jovem que imóvel jazia no chão… quando por fim acabou, o corpo demonstrava todo o seu sofrimento e agonia… das 5 pessoas que visionaram as imagens de uma câmara de segurança, a repulsa por tal acto era inegável…
Mas porque nos causou tanta revolta e repulsa? Terá sido por terem sido 8 contra 1? Terá sido por terem espancado selvaticamente um jovem indefeso? Terá sido porque os 8 agressores tinham pele negra? Terá sido por o último jovem ter pontapeado e saltado de forma animalesca em cima da cabeça do jovem que jazia imóvel no chão? Ou terá sido por todas as hipóteses anteriormente referidas?
Nietzsche uma vez escreveu no seu livro “Assim falava Zaratustra” o seguinte: «uma coisa é o pensamento, outra é o acto, outra ainda, a imagem do acto». O pensar naquele acto incómoda, o acto em si revolta, mas ver o acto enoja…
Explicações e acusações foram prenunciadas.
Fiquem a pensar no que tínhamos visto e no que tínhamos dito…
As imagens de alguém a ser espancado selvaticamente e num acto ignóbil, desumano e cobarde um jovem salta com os pés juntos sobre outro jovem que jazia imóvel no chão, já com francos sinais de sofrimento incomodou tanto porquê?
Porque o acto foi visto por nós. Era a realidade, não era mais um filme ou um jogo em que caso o jovem jazido do chão perdesse, podia sempre começar de novo. Incomodou, revoltou, enfureceu, indignou, porque possivelmente tinha sido no nosso país e mais ainda. Porque podia ser um de nós ou alguém de quem a gente gosta…
Aquelas imagens revoltam o mais nobre dos cristãos, mas não revolta também saber que a Pfizer usou crianças nigerianas como cobaias para testar medicamentos? Que aproveitou um surto de meningite para ensaiar um novo medicamento, mesmo sem autorização dos pais das crianças. Onde das 200 crianças que foram sujeitas a testes, 11 morreram e as restantes ficaram com graves danos. Infelizmente o uso de pessoas como cobaias para testes de medicamentos nos países menos desenvolvidos não se limita a este hediondo caso. As grandes farmacêuticas servem-se do facto de as pessoas viverem em situações de pobreza. Este caso que falo passou-se em 1996. Só passado 13 anos é que a Pfizer foi condenada a pagar 50 milhões de dólares. Sendo que a meio do ano passado a Pfizer anunciou uma subida de lucro para os 2,77 milhares de milhões de dólares, para culminar numa receita total de 12,1 milhares de milhões de dólares.
Qual é a diferença? Qual nos repulsa mais? Qual é mais condenável?
No 1º temos oito contra um, no 2º temos uma multinacional contra 200;
No 1º temos uma violência física desmedida, no 2º temos uma imensurável violência química;
No 1º temos jovens solteiros a ferir/matar outro jovem, no 2º temos adultos pais de família a inutilizar/matar crianças;
No 1º temos jovens de pele negra a perpetrar tal acto, no 2º temos adultos pais de família de pele clara;
No 1º temos jovens de pele negra, solteiros, com uma possível escolaridade reduzida, no 2º temos adultos, pais de família, com escolaridade superior;
No 1º temos um acto baseado no impulso, no 2º temos um acto premeditado, planeado, avaliado, quantificado;
No 1º temos um acto com o objectivo de provocar sofrimento em alguém e demonstrar ao grupo quem é o mais temível, no 2º temos como objectivo o dinheiro e o controlo de parte de um mercado, mesmo que para isso se provoque o sofrimento, a deficiência e a morte.
Posto isto qual dos 2 causa mais revolta?
É claro que a mim me revolta o 1º caso, pois as imagens são aterradoras, mas o 2º revolta-me, enoja-me, corrói-me…
Revoltamo-nos muitas vezes com quem como nós é vítima. Quando há fome, quando o desemprego aumenta, quando se coloca pessoas em guetos, quando se descrimina, quando há injustiça, a violência aumenta e para todo o problema complexo há sempre uma solução simples… que geralmente está incorrecta.
É mais fácil culpar os “pretos”, os “ciganos”, os “brasucas”, os “moldavos”…
A famosa “crise” que nos pôs todos a pensar na vida, terá sido provocada pelos acima referidos? Não terá sido provocada por indivíduos claros, pais de família, com estudos académicos e de reconhecível conduta ética e moral irrepreensível?
Quando pessoas como nós, chamados “classe média” nos ressentimos da “crise” como se ressentiram os que estão piores que nós, os que nada têm e nada podem?
Sem escolaridade, sem futuro, sem perspectiva, sem esperança…
Não é por se ser pele clara, ou escura, não é por se ser estrangeiro ou não estrangeiro, que se deve esta violência crescente no nosso país. As condições actuais são favoráveis à violência, à delinquência, a tensões entre classes e à criação de bodes expiatórios, que nos tiram objectividade, coerência dos verdadeiros responsáveis pelo declínio da nossa sociedade e planeta em geral.
Acredito no Homem e no bem comum que conseguiu, consegue e que conseguirá mais e melhor… é esse o meu desejo, a minha ambição. Tenho esperança em algo que por vezes me desesperança! Se assim não for, o que ando cá a fazer…? O que andamos cá a fazer...?

Sem comentários: