"Afastar muitos para longe do rebanho, foi para isso que eu vim!" Nietzsche

domingo, 20 de novembro de 2011

Gente da minha terra...



Ontem enquanto caminhava pela cidade, passei pelo Monumental por volta das 22:30,  e reparei que o vidrão tinha um desenho do "Senhor do Adeus" (embora ele afirmasse que acenava para dizer olá e cumprimentar as pessoas que passavam, ficou conhecido como o Senhor do Adeus, ironias). Achei simpática a ideia de colocar naquela zona esta espécie de tributo a este ícone de Lisboa, que tantas vezes o viu acenar e cumprimentar as pessoas, porque queria dar alegria aos outros. Mas perto deste vidrão, alguém começou a gritar "eles estão a chegar!". Rapidamente começaram a aparecer pessoas vindas de várias direcções, cerca de 60, que se colocaram numa fila ordenada e aguardaram que chegasse a sua vez de receber uma refeição quente naquela noite fria de Lisboa. Já tinha visto aquela cena repetir-se incontáveis vezes, mas hoje era diferente... olhei com mais atenção e reparei que havia casais e alguns deles com filhos que não deviam ter mais de 7 anos e muitos deles bem vestidos. As "carências alimentares" ou "subnutrição” como agora gostam de chamar à fome, começa a chegar a outras camadas da sociedade. Já não são só os apelidados “vagabundos”,  “sem-abrigo”, que se alimentam da bondade de algumas almas caridosas, também outros que nunca pensaram ter que se colocar em fila, numa rua nobre da cidade ao frio e receber, quem sabe, a sua primeira e única refeição do dia. Mas mesmo no meio deste drama, a resiliência e a esperança de que melhores dias virão, alguém diz em tom irónico "eu quero comer um bocado de paté ou de caviar"...

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