Ontem enquanto caminhava pela cidade, passei pelo Monumental por volta das 22:30, e reparei que o vidrão tinha um desenho do "Senhor do Adeus" (embora ele afirmasse que acenava para dizer olá e cumprimentar as pessoas que passavam, ficou conhecido como o Senhor do Adeus, ironias). Achei simpática a ideia de colocar naquela zona esta espécie de tributo a este ícone de Lisboa, que tantas vezes o viu acenar e cumprimentar as pessoas, porque queria dar alegria aos outros. Mas perto deste vidrão, alguém começou a gritar "eles estão a chegar!". Rapidamente começaram a aparecer pessoas vindas de várias direcções, cerca de 60, que se colocaram numa fila ordenada e aguardaram que chegasse a sua vez de receber uma refeição quente naquela noite fria de Lisboa. Já tinha visto aquela cena repetir-se incontáveis vezes, mas hoje era diferente... olhei com mais atenção e reparei que havia casais e alguns deles com filhos que não deviam ter mais de 7 anos e muitos deles bem vestidos. As "carências alimentares" ou "subnutrição” como agora gostam de chamar à fome, começa a chegar a outras camadas da sociedade. Já não são só os apelidados “vagabundos”, “sem-abrigo”, que se alimentam da bondade de algumas almas caridosas, também outros que nunca pensaram ter que se colocar em fila, numa rua nobre da cidade ao frio e receber, quem sabe, a sua primeira e única refeição do dia. Mas mesmo no meio deste drama, a resiliência e a esperança de que melhores dias virão, alguém diz em tom irónico "eu quero comer um bocado de paté ou de caviar"...
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